Eu estava ali. Sim, eu sempre estive ali, esperando naquele córrego. Não havia nada nesse mundo para mim. Exceto aquelas mãos saindo da água me puxando, me puxando para baixo. E eu morria várias vezes ao dia. Me lembro de quando você foi me visitar, mesmo que não pudesse me ver. Sabe, eu senti saudades de você. Fazia tanto tempo que não vinha me visitar, pois bem, um dia veio. E me desculpe, mas esqueci que estava morta. Eu tentei segurar sua mão e percebi que você já não podia mais sentir meu amor. Me perdoe, foi instinto. Você não imagina o quanto foi complicado para mim. Mas eu já era um deles e você, embora não me visse, sabia disso. E você também conhecia aquele lugar, aquele córrego, aquele pântano. Isso podia acontecer e a hora já estava marcada. Foi a hora que você se lembrou de mim, e veio chorar comigo. Fizeram isso comigo também, se lembra? É claro que se lembra, como não se lembraria? Foi o motivo de nossa separação. Foi meu passo escorregadio que me levou para baixo, quando você gritava para eu voltar. Aquele lugar nunca cheirou bem, mas gostávamos de lugares excêntricos. E vendo você ali, sentada naquela pedra, sem poder segurar sua mão, me fez estremecer. Não de ódio, mas de pavor. Pavor de não tê-lo mais. Medo de você ir embora e se esquecer novamente. Medo de me esvair de seu coração. E então não tive escolha, não tive pensamentos. Não percebi nada. E então eu o puxei para mim, o puxei para baixo. Assim, como fizeram comigo a alguns anos atrás, se lembra? É claro, como não se lembraria?
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