sábado, 12 de novembro de 2011

Jantar

 Eu não sabia cozinhar, já havia dito para ele. Mas ele sempre me fazia tentar, pois apesar de  a comida ficar horrível ele sabia que eu adorava cozinhar. Me acalmava. Ele me achava linda cozinhando, mesmo com avental sujo de molho e farinha nos cabelos. Ele chegava a passar três horas me observando fazer o jantar. E quando eu colocava as travessas na mesa e dizia que ele não conseguiria engolir aquilo,  ele experimentava uma garfada, me beijava os lábios e dizia: "Não está tão ruim, amor. Você está melhorando." E eu mesma não conseguia comer o que eu havia preparado. Ficava vinte minutos revirando o prato com o garfo, mastigava três garfadas e o fazia sair para comprar alguma coisa melhor do que aquilo. E quando resolvíamos pedir o jantar por telefone, fazíamos um amontoado de cobertores e almofadas em frente à televisão e ficávamos assistindo algum filme enquanto o motoboy não chegava. E sempre abríamos uma boa garrafa de bebida, e deixávamos mais três ou cinco por perto. E quando a campainha tocava, ou nenhum de nós queria levantar, ou ambos saíamos correndo. E o motoboy dava risada de meu atrapalhamento sob efeito alcóolico. E ele ria junto. E sempre chamávamos o motoboy para entrar, mas ele dizia que se o fizesse seria demitido. Era um rapaz novo, de belas feições. Era seu primeiro emprego, estava economizando para pagar uma faculdade de medicina. Sempre lhe deixávamos algum dinheiroa mais. Eu gostava dele, era um bom rapaz. Sempre o elogiávamos e pedíamos para o dono da pizzaria que o mandasse quando ligássemos para pedir alguma coisa. E voltávamos cambaleando para o amontoado de cobertores e almofadas. E depois de muita bebida, alguns pedaços de pizza e vários beijos eu adormecia em seus braços. E sonhava com ele todas as noites. E acordava com barulhos na cozinha, então ele aparecia com um prato de alguma coisa que eu julgava ser comestível. Era assim que nossos avós faziam: diziam que cozinhar era a melhor forma de demostrar afeto. E ele cozinhava para mim, e eu tentava cozinhar para ele. E éramos simples, e éramos as pessoas mais felizes do mundo.

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