sábado, 14 de abril de 2012

Baile

 Eu, em minha casinha, via descer a noite. Entristecia-me. Como sempre duas vezes na semana, ia começar o baile da casa da frente. Via pela janela meu marido entrando, todo arrumado como nunca se arrumara para mim. Via ele tirando a filha do dono da casa para dançar, segurando sua mão e dando-lhe o ritmo. Nós nunca mais dançamos juntos, desde o nascimento da minha pequena que estava em meus braços enquanto ele saía para dançar. E a moça toda jeitosa fazia como se ele fosse um rapaz solteiro. Sorria-lhe e lhe apertava a mão, sabendo que eu o estaria olhando de longe. E eles giravam pela sala a noite inteira enquanto no rádio tocava uma bonita canção de amor. Então, se de trizteza não morri, de nada mais morreria. Peguei minha pequena no colo, ajeitei minhas malas e fui embora, dançar sozinha minha própria canção.

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