segunda-feira, 19 de março de 2012

O Galanteador

 Querida D***,
Após receber sua carta, resolvi contar-lhe essa história que me pergunta há tantos meses, já que insistes em saber a verdade.
Meu amigo, F*****, era chamado "O Galanteador" fazem cinco anos. Não era aproveitador, não senhorita, mas sim um apaixonado pelas mulheres. Amava-as inteiras, de seus cabelos macios, o tom corado de suas bochechas, suas peles aveludadas até as pontinhas mimosas de seus pés. Creio que a senhorita não acredite no que vou lhe dizer agora, mas lhe garanto que é a mais pura verdade: quando ele lhe conheceu, não foi diferente, ele a amou. Talvez ele lhe tenha escorregado pela mão, sumido algumas vezes, e, talvez até o tenha encontrado com outra bela muher, mas lhe garanto que não foi a intenção machucar-lhe. Ele não conseguia mesmo se prender a apenas uma maravilha, com tantos cabelos louros, negros e avermelhados esvoaçando por aí, com sorrisos de derreter o coração. Se sentia cercado de belas jóias e não sabia ser sério, era apenas um tolo galanteador, que pensava conseguir amar e ser amado por todas, sem pensar que as machucava.
Daí, todos sabemos que a senhorita se apaixonou por ele. A víamos apenas balançando os pezinhos sentada nas festas, esperando que ele a tirasse para dançar, recusando outros tantos corações. A via também passar por debaixo da janela de F***** e suspirar-lhe mesmo que ele não a visse. A via em sua busca quase impossível por um amor inteiro de um homem dividido. E é por respeito a esse amor é que lhe conto o que ocorreu para sua fuga repentina. E sei que a senhora pensa que fim se deu o homem, mas é de todo seu engano.
      Quando a notícia de que F***** havia fugido com uma mulher da qual só se viu o manto na qual se escondia, e que alguém os havia visto embarcar, nada mais me restou a fazer. Eu, sendo seu melhor amigo, sabia de uma dúvida que ele havia recentemente tido. Essa fuga foi apenas uma confirmação de seus anseios, e eu já sabia muito bem o que representava. Só havia restado a mim as dúvidas alheias sobre meu amigo galanteador fujão. Eu, para preservar sua imagem, contei a todos que ele se apaixonara por um belo botão de rosa e que fugiram para se casar, mas agora confesso-lhe que é mentira. Na verdade, cara D***, um belo dia meu amigo se viu apaixonado por um belo chapéu que cobria cabelos curtos e sedosos, uma face amadeirada e bem talhada, com feições fortes e um par de sapatos lustrados. Era esse homem, seu antigo amigo de colégio, com quem ele fugiu, partindo o coração de todas as mulheres da cidade.
Agora, espero que a senhorita entenda como foi difícil para ele se aceitar, e por que não pôde amá-la de todo. Apaixonados, os pobres tolos fugiram para viver longe da cidade. Espero que mantenha esse segredo que eu mantive durante esses meses. Boa sorte com o próximo galanteador.
                                                Atenciosamente, G.R.

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