domingo, 8 de janeiro de 2012

Câncer

 Eu sempre pensei no que aconteceria quando eu morresse. Ir para o inferno para salvar alguém que amamos me pareceu uma boa opção. Embora ele não se importasse com a vida dele, eu me importava. E apesar de nossa filosofia anormal, e de dizermos que já que teríamos de morrer de alguma coisa, que fosse de câncer (éramos a favor do cigarro na época), tenho de admitir que isso acelerou meu processo de morte. A descoberta da doença em ambos não nos surpreendeu, mas abalou nossas vidas. Deixamos de nos importar com tudo, exceto um com o outro. Esperávamos a morte juntos, lentamente, sentindo aquilo corroendo nossos corpos. Juntos. Mas eu não queria que aquele fosse o fim dele, tão trágico como o meu. Eu gostaria que ele fosse feliz ao menos mais uma vez antes de morrer. E então disse, que trocaria minha alma pela cura de seu corpo. E jurei. E pedi aos quinze demônios e seu chefe, que fosse assim. E escondi meu segredo até minha lápide. Então, segurando minha mão e me vendo naquela cama de hospital imunda, ele não entendeu o motivo de sua doença estar sendo curada e a minha estar me sugando. Eu lhe disse, que para me pagar por ter me deixado morrer sozinha ele deveria ser feliz por mim. E o deixei sem entender. Seria melhor assim. E enquanto ele me abraçava com medo e culpa, sendo deixado sozinho, eu adormeci enfim. E nunca mais tive notícias dele.

Um comentário:

nalva disse...

nossa,esta historia me deixou arrepiada!acabar com a propria vida por quem vc ama eh um jeito nobre.mas nao sei se faria kk