sábado, 31 de dezembro de 2011
Ano novo?
E então ela estava passando por mais um ano. Ela via as pessoas à sua volta se sentindo renovadas, felizes, com esperança. Mas, para ela era apenas mais um ano. E pensou, se realmente valia a pena toda essa festa. Afinal, após um ano haveria outro, e outro, e não importava mais o espírito de renovação porque ela sentia que todos seriam iguais. Então, por quê as pessoas conseguem se sentir felizes apenas porque terminou um conjunto de dias e começou outro igual? As mudanças só são provocadas pela própria pessoa, pela vontade dela de mudar. Isso poderia ser feito em qualquer época do ano. Mas não, as pessoas esperavam para fazer isso todas juntas. Talvez fosse isso que desse força para elas mudarem. Estar perto de quem gosta, ser desejado seu bem. Mas então porque algumas nunca mudam? Bom, como ela, talvez porque algumas não tenham ninguém. Ninguém que se preocupe e que queira estar junto, nem em uma época assim, "especial".
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Aquela não era uma canção de amor
Eu deveria ter reparado quando você me abraçou, que você estava de partida. Mas eu não prestei atenção em você, achando que você nunca iria embora. Eu deveria ter visto isso em seus olhos. Eu fiquei tão triste, eu chorei por todas as noites que pude me lembrar. Eu tentei ficar presa em você através do seu cheiro em meu quarto, das suas roupas que ficaram no armário. Eu enlouqueci, trancada naquela casa. Eu nem parei para pensar que amar você não fazia sentido. Mas eu o amei do mesmo jeito. E não deixaria de amar. E não deixei. E aquela canção que você me tirava para dançar, que dizia "o quanto é ridículo o que as pessoas fazem / dançando a noite toda sem parar / roubando os doces da festa / dizendo que odeiam amar" bom, aquela não era uma canção de amor. Mas agora vejo que foi a nossa. E agora vejo que todos aqueles meses em que estive chorando não valeram a pena. Eu deveria ter ido atrás de você. Agora talvez você já tenha outra vida, mas ainda assim você me faz feliz ainda. Eu sinto saudades, então coloco aquela música e fico dançando pelo quarto, sentindo seu cheiro, como se você estivesse ali. Quem sabe você não volta? Eu vou ser feliz algum dia, não importa qual caminho as coisas sigam. Hoje, me sentindo bem pelas coisas que você fez por mim, tendo certeza de que me amou. Acredito que agora as coisas vão mudar. Vão melhorar. Aquela nossa canção de amor, que me fez pensar, me mostrou isso.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Perdendo isto.
Seu coração está gritando que você tem sua própria vida. Suas próprias coisas. E você acredita nisso. E todas as pessoas estão rezando e sangrando por um amor de verdade. E isso vai durar para sempre. A única coisa que eu sei é que isso é verdade. E meu coração está desafiando minha mente, está procurando por você. E o tempo foi passando muito rápido, os anos tentavam se atropelar e estar um por cima do outro. As pessoas não perceberam que estar amando é estar mentindo o tempo todo. Minhas mãos procuram pelas suas quando passo pelos corredores vazios. Sua imagem se projeta em meu espelho, enquanto meus lábios secam. Alguma coisa está gritando aqui em mim. Incoscientemente estou procurando seu sorriso. E não acredito mais que isso seja real. As coisas estão passando umas por cima das outras e se misturando mais do que poderiam, isso nos tira a liberdade. E eu estou perdendo tudo. Estou perdendo minha própria vida, enquanto meu coração pulsa forte com minha mente. Pulsa por você. Eu apenas perdi mais um dia. Não posso acreditar nisso. Estou perdendo os dias, e ainda estou vivo.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
O rapaz da garota estranha
Ela andava pela casa de cuecas samba-canção e sutiã, cozinhava miojo na panela elétrica e atacava a fruteira de hora em hora. Era meio delicada, deisleixada, ansiosa, mal-humorada, sonhadora, boba. Não sabia direito se acreditava ou não. Não sabia direito o que fazer da vida, o que fazer com tanto tempo e o que fazer pra alcançar essas coisas que exigem pressa. Se dava melhor com os rapazes que a tratavam normalmente, pois não gostava de ser "a garota da turma", gostava de ser apenas "da turma". Às vezes preferia ser mesmo tratada como os garotos tratavam todos os seus amigos, se sentia à vontade jogando videogame na casa deles e não indo à um restaurante e não poder pagar a metade da conta. E um dia houve um rapaz que a entendeu. Aquele que segurava sua mão no meio da torcida do jogo no bar, que a levava para comer enlatados na mesa à luz de velas, que a chamava para uma partida de Mario Kart no fim de semana. O rapaz que gostava de miojo de panela elétrica, de coisas simples e uma garota que não se entendia. O que, apesar de tantas no mundo com sorrisos perfeitos, gostava da garota do sorriso estranho.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
A garota do cabelo amarelo-canário.
Ela era a garota do cabelo amarelo-canário. Eu a vi pela primeira vez, sentada na praça com um caderno velho apoiado nos joelhos e um lápis sendo mordiscado. Fiquei curiosa, não é tão comum hoje em dia pessoas escreverem. Não daquele jeito, de quem estava gostando. E então, me sentei ao lado dela sem pedir licensa. Ela estava escrevendo uma história. Gostava de literatura, me dissera, como eu. Então, quando percebi, eu a estava ajudando a achar as palavras. E fomos as duas, criando um mundo paralelo num pedaço de papel, viajando em nossas mentes. E o tempo foi passando, anoiteceu, e no dia seguinte ela estava lá novamente. E no outro, e por semanas como se já tivéssemos marcado. E a história foi crescendo, e um dia ficou pronta. Num dia comum, sentadas no banco da praça, havíamos escrito um livro. E no mês seguinte, ela me ligara, avisando que recebera a resposta da editora. O livro seria publicado. E então, ao receber o presente em minha porta, ao abrir a primeira página, meus olhos se encheram de lágrimas e eu soube que havia ganhado ali uma amiga de conquistas, uma irmã. Nela dizia: "Dedico essa história à minha irmã, que conheci na praça em março de 2011. Que me ajudou a seguir em frente com o livro quando já não imaginava mais se poderia escrevê-lo".
- História dedicada à Nalva, que sempre me ajudou e apoiou com minhas histórias. A única que depositou fé em mim. Obrigada.
- História dedicada à Nalva, que sempre me ajudou e apoiou com minhas histórias. A única que depositou fé em mim. Obrigada.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Insônia.
Já estava no meio da noite. Insônia, maldita insônia. Fui fechar a janela, mas o céu estava tão lindo. Me lembrei de você. Saudades. Chorei feito uma garotinha, e o que mais podia fazer? Deitar. Deitar e dormir. É o que eu deveria já estar fazendo. Tentei. Deitei. Fechei os olhos. O tempo foi passando. Comecei a suar frio. Estava quente. Estava confusa e estava tonta. O silêncio era enlouquecedor. Ele me dizia tudo o que eu não queria ouvir. Me assustava. Fazia repassar na mente as imagens que eu não sabia ao menos se eram reais. E o pesadelo começou. Eu gritava, mas não havia som algum. E eu corria, mas não havia nada na minha frente. Nada, em lugar algum. Então acordei, com a impressão de a visão ter se distorcido. Voltou ao normal. Exepto por aquele vulto. Impressão minha. Via os minutos passarem de forma incoerente no relógio. 03:41. 03:45. 03:45. 03:46. 04:00. Não importa. Voltar a dormir. Insônia, maldita insônia. Me levantei e fui até a janela para abrir, estava demasiado calor. As nuvens cinzas cobriram as estrelas. E me lembrei de você.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Conversa
Você ainda está dizendo que não tentei. E você realmente acha que eu joguei tudo no lixo. Não, você jogou. Você com suas crises, sua mania de posse, seu desdém. Não é justo que eu deva levar toda a culpa, afinal. Mas tudo bem. Sério, porque não me importo mais com o que você pensa. Mesmo que seja injusto. Digo isso, porque sei que você é fraca demais para seguir sozinha sem esse tipo de apoio. Porque você não consegue aceitar que estragou tudo dessa vez, e que foi a última. E que não vai aceitar que eu tenha tentado fazer isso viver e você tenha se esquecido, e que agora tenho minha vida longe de você. Você deixou secar. Está seco, ouviu? Seco. Você não pode regar as plantas depois que elas secam, porque já estão mortas. Então pare com essa maldita conversa sobre "voltar". Eu não a amo mais. Não significa que eu nunca tenha amado, como você pensa. Deixe de ser egoísta, e tente ver que era impossível meu amor sobreviver a isso tudo. Veja, o quanto foi torturoso viver sobre o mesmo teto que você, e o quanto eu fui me enojando de deitar ao seu lado na cama quando as únicas vezes em que você pensava em mim era quando se deitava em cima de mim, tentando se esquecer de um dia estressante, roçando grosseiramente nossos corpos suados debaixo do cobertor. E o quanto eu estava cansado disso tudo, dessa prisão, de não poder ter amigos e nem uma vida humana. De ter que ficar ali, para você, sempre, mesmo que você não estivesse lá. E lembre-se de todas as vezes que eu a amei, e você estava sempre correndo de um lado para o outro. Acostumada com que todos os rapazes fizessem tudo para você. E você era egoísta, por Deus, e como era mimada! Só que as coisas não deram certo para você dessa vez, não foi? Eu me libertei, eu me libertei! Hahaha!!!
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Lembranças.
Agora eu posso esquecer de ontem. Agora eu posso esquecer seu sorriso. Gostaria de nunca ter deixado você ir, mas agora já não importa mais. Eu tenho que aprender a viver assim. Já dei meu passo, e a direção era outra, embora você estivesse me esperando de braços abertos. Eu errei, fui pelo lado errado e agora tento esquecer de como poderia ter sido. Tento não pensar. Vou dando um passo lento atrás do outro, forçando-me a chegar a algum lugar. Mas a rua está vazia e não encontro lugar algum. Então, eu sempre volto chorando para você, pedindo-lhe para me segurar em seus braços por apenas outro dia. Lhe dizendo o quanto eu estava errada. Mas é hora de nos separarmos. Tenho de deixar que você viva sua vida, sem meus braços te sufocando e minhas unhas cravadas machucando seu coração. Sei que dói quando eu chego perto de você, e te faço sentir meu cheiro, lembrar de meus abraços, lembrar de uma vida simples que você queria e eu não dei valor. Sei que não gosta de lembrar de mim, de minhas promessas e planos destruídos. Mas dói para mim também, destruir planos em que eu acreditava por tão pouca coisa. Besteira. Eu acabei tudo para nada. Nunca teria valido à pena. Como pude ser tão tola? Não importa mais agora. Você nunca vai olhar para mim do mesmo jeito. Acho melhor voltar para a cama agora, está tarde e está frio. E não posso correr para você agora.
domingo, 18 de dezembro de 2011
Outra
Me encontrei com ele na rua, e ele estava acompanhado. E ela era tão bonita, tão diferente de mim. Abaixei meus olhos e vi suas alianças em seus dedos entrelaçados. Fiquei pensando, no porque de ter sido diferente para mim. E agora aquele maldito líquido escorria quente e desconfortável em meu rosto, me envergonhando. E ele a estava segurando sua mão macia, olhei para a minha, áspera, balançando sozinha do meu lado. E não havia nada que eu pudesse fazer. Não havia nada para mim ali. Ele estava feliz, mas estava com outra e eu estava sozinha. Eu estava com ódio. Eu queria matar alguém. Eu queria matar... a mim. Eu quem havia feito isso. E não aguentava mais ver no espelho aquela vaca cínica. Eu não queria mais atrapalhá-lo ou fazê-lo sofrer. Não podia. Mais temia afastar-me pois sabia que ele não viria atrás de mim. Mas tive que fazê-lo. E aquele maldito líquido quente continuava molhando meu rosto, mais e mais e mais...
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Carta [...]
Não adiantava, eles não entendiam. Como explicar que as coisas deveriam tomar um rumo diferente agora? Que na minha crença isso seria bom, quase uma evolução? Seria como receber de volta minhas asas, como receber tudo o que tiraram de mim. Mas eu não podia simplesmente deixá-los, acreditando no que eles acreditavam que aconteceria comigo. E, embora fôssemos todos um pouco distantes, éramos uma família. Isso me fez repensar na minha decisão, mas quanto mais tempo se passava ali, mais eu sofria. Sofria porque é isso o que acontece por aqui, nesse lugar medíocre do qual estava prestes a me mudar. E estava pronto. Agora era só esperar a hora certa para mexer meus pauzinhos da melhor maneira. Fazer a coisa certa. Pela última fez nesse lugar cheio de ambição, egoísmo, mal cheiro e prostitutas baratas se vendendo na frente de todos pelas esquinas. Então, eu estaria onde em todo esse maldito tempo quis estar. Longe desse lugar imundo. E eles deveriam aceitar isso mesmo que fosse do último jeito. Então escrevi uma carta para eles. Minha carta de suicídio.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Amarrada.
Eu pretendia passar apenas mais uma noite ao seu lado. Mas ele me amarrara, desta vez para sempre. Não foi justo, não poder passar mais noite alguma com as pessoas de quem gostava. Mas foi a toca feita para tê-lo comigo, e por tempo indeterminado. E eu aceitei. Apesar da minha vida divertida de festas e boas companhias, sentia falta dele quando colocava a cabeça no travesseiro. Então tive de fazer minha escolha. E aquela vida estava acabando comigo física e moralmente, de qualquer forma. Então, eu o tinha agora. E eu era para ele também. Estava amarrada. Mas estava satisfeita.
Botequim
Sentado no botequim, filosofando sozinho. Sozinho, com ela. Ela, meu amor. Não me refiro àquela bela garota, pois ela foi embora. Me refiro à outra, com quem fiquei depois. Minha bela garrafa de uísque. A que nunca desconfiei de traição. A que nunca me magoou ou fugiu. Por um momento, foi melhor do que chorar por aquela menina ingrata. Mas depois eu já nem sabia por que eu bebia. Só sabia que me descontrolava, me persuadia e depois me corroía de dentro pra fora. E eu não podia deixar de fazê-lo um só dia. Era meu ritual de suicídio não-planejado. Era algo completamente meu. E eu meio que gostava disso.
sábado, 10 de dezembro de 2011
Especial
Não é como se as pessoas quisessem estar comigo. É só que elas se sentiam atraídas por uma coisa que eu tenho. Mas não é como se me amassem. Eu era de fato interessante, mas eu era também sozinha por isso. Alguém incapaz de se deixar amar. Alguém que passava a vida enterrada na própria solidão que criara para si. E um dia um humano me amou, mas eu não sentia que podia deixar. O passado havia me dito que eu o faria sofrer se ficasse com ele. E eu. Eu o amava e tive medo de deixar que ele o fizesse. E acabei o machucando por isso. E me machuquei também. Só assim percebi que ele era para mim e eu era para ele. Eu expulsei de minha vida minha pessoa especial. E ele não vai voltar nunca mais. Como diz a profecia: você só terá uma chance de ser feliz, você terá de identificar sozinha aquele que vai ser especial para você.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Tudo.
Ele era meu céu. Ele era minha terra. Ele era meu tudo. E quando ele não estava comigo não existia nada. Era um grande vazio infinito. E eu ficava por horas perdida, esperando ele voltar. Meu mundo aparecer de novo. E um dia ele simplesmente não apareceu. E os anos se passaram, e eu fiquei ali, sentada, esperando. Sem caminho para ir, sem um céu para observar. Sem minha vida. Sem ele. Sem tudo.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Cão
Ali, parado como ele sempre estava. Agachado, observando sua dura expressão. Ele fizera tudo errado outra vez. E não era de se admirar que ela o tratasse de tal forma. Meteu-lhe um chute e se virou. Ele a havia envergonhado de novo. Por que não parava de se meter em situações constrangedoras, como usar uma coleira com seu nome? Ele a amava, sim, mas amava do jeito errado. Ela queria um homem, não um cão. Então, ela o pôs pra fora por uma noite. Duas, três...
Detalhe: o cão na história representa um homem. Ele é chamado cão pelas características parecidas.
Detalhe: o cão na história representa um homem. Ele é chamado cão pelas características parecidas.
domingo, 20 de novembro de 2011
Pecados
Deitada em minha cela, meu leito de morte, calada. Com a respiração alta falando por mim. A noite toda ouvindo a porta ranger e as sombras se esconderem por trás dos móveis. Sonhando com meu falecido amor e seus sete anjos negros a rodeá-lo. Seus sete pecados. E eu à beira do precipício, sendo empurrada por suas enormes asas contra mim, separando-me dele. Uma visão terrível para uma figurante de filme de terror barato, uma ainda iniciante. Uma completamente leiga insegura, eu. Uma quase morta. No estado em que a pele não pode ser mais pálida, e nem o corpo mais frio. E nas veias o sangue coagulado, onde injetei nada mais do que ar, pois em vida já não podia mais respirá-lo. E por entre os pedaços retalhados de meu coração todo sangue já se fora, e agora jazia no chão, junto a mim. Mas para minha surpresa não consegui livrar-me de minha carne pesada, um falso abrigo para a alma. Vivi então estagnada, em abstinência. E agora que meus amores se foram por conta de nossos pecados, me encontro aqui, andando por entre túmulos e cadáveres pútrefes. Na companhia de quem vem me buscar, do que nos leva embora. Aguardando a minha vez, usufruindo de meus últimos pecados.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Apaixonada
Eu telefonei mais uma vez. Mais uma vez, ele não atendeu. Mas antes disso ele foi embora. Comecei a me lembrar, da última vez em que nos vimos. Ele passou reto por mim, como se não tivesse me visto. Ou será que não viu? Não sei se alguém pode não ver outra pessoa passando na frente dela. Mas por hora prefiro não pensar naquele dia. Alguns dias antes, ele havia me chamado para sair. Me disse que iria embora, mas não disse quando. Ele me chamava de namorada, embora eu rejeitasse a idéia. Quero dizer, eu fingia que rejeitava para ouvir ele insistir. Repetir o quanto ele me queria dele. Ele havia me pedido em namoro, e eu realmente acreditei que ele me amasse. Eu me sinto culpada por ter esse meu jeito durão, talvez ele tenha me interpretado mal. Talvez ele tenha pensado que eu não o amava, e por isso foi embora. Ele me chamou para sair naquele dia, pois havíamos nos acertado no dia anterior. Eu havia dito para ele que era com ele que eu queria ficar, se ele também quisesse. Ele me mostrava junto dele para todo o mundo. Chegava a ficar enciumado, não me deixava sair de perto dele. Eu havia terminado meu namoro para ficar com ele, pois achei que... acho que não achei nada, estava vidrada demais nele para pensar. Estava apaixonada. Quando ficamos juntos antes disso, nos encontramos sem querer, no meio da rua, procurando o mesmo local. Um show de uma banda de rock cristã, que não assistimos. Ficamos sentados num banco na frente de uma loja, conversando. E ele cantava pra mim, o tempo todo, e eu implorava para que ele parasse. Era irritante. Mas ele era meu, e eu gostava até de como ele era irritante. Eu gostava de tudo nele. E antes disso, a primeira vez que o vi. Ele estava sentado na praça como se estivesse me esperando. Estava com minhas amigas, e ele comprou bebidas pra gente. Era como se eu já o conhecesse. Andamos bêbados pela cidade, ele sempre me carregando. Ele cuidou de mim, segurou minha mão. Me parecia um conto de fadas. E nos divertimos tanto, e ele contava histórias para todos ali. E ele me segurou em seus braços, me apertou forte com medo de me perder. E, meu Deus, eu me lembro da primeira vez que o vi ali, olhando pra mim, e já sabia que eu o amaria.
sábado, 12 de novembro de 2011
Jantar
Eu não sabia cozinhar, já havia dito para ele. Mas ele sempre me fazia tentar, pois apesar de a comida ficar horrível ele sabia que eu adorava cozinhar. Me acalmava. Ele me achava linda cozinhando, mesmo com avental sujo de molho e farinha nos cabelos. Ele chegava a passar três horas me observando fazer o jantar. E quando eu colocava as travessas na mesa e dizia que ele não conseguiria engolir aquilo, ele experimentava uma garfada, me beijava os lábios e dizia: "Não está tão ruim, amor. Você está melhorando." E eu mesma não conseguia comer o que eu havia preparado. Ficava vinte minutos revirando o prato com o garfo, mastigava três garfadas e o fazia sair para comprar alguma coisa melhor do que aquilo. E quando resolvíamos pedir o jantar por telefone, fazíamos um amontoado de cobertores e almofadas em frente à televisão e ficávamos assistindo algum filme enquanto o motoboy não chegava. E sempre abríamos uma boa garrafa de bebida, e deixávamos mais três ou cinco por perto. E quando a campainha tocava, ou nenhum de nós queria levantar, ou ambos saíamos correndo. E o motoboy dava risada de meu atrapalhamento sob efeito alcóolico. E ele ria junto. E sempre chamávamos o motoboy para entrar, mas ele dizia que se o fizesse seria demitido. Era um rapaz novo, de belas feições. Era seu primeiro emprego, estava economizando para pagar uma faculdade de medicina. Sempre lhe deixávamos algum dinheiroa mais. Eu gostava dele, era um bom rapaz. Sempre o elogiávamos e pedíamos para o dono da pizzaria que o mandasse quando ligássemos para pedir alguma coisa. E voltávamos cambaleando para o amontoado de cobertores e almofadas. E depois de muita bebida, alguns pedaços de pizza e vários beijos eu adormecia em seus braços. E sonhava com ele todas as noites. E acordava com barulhos na cozinha, então ele aparecia com um prato de alguma coisa que eu julgava ser comestível. Era assim que nossos avós faziam: diziam que cozinhar era a melhor forma de demostrar afeto. E ele cozinhava para mim, e eu tentava cozinhar para ele. E éramos simples, e éramos as pessoas mais felizes do mundo.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Ele (e sua real forma)
Ele chegou. Me abraçou, se enrolou em mim, me enrolou nele, me esquentou. Cantou, sussurrou, sorriu, me fez rir. Estava comigo, me ligava, me escrevia, não me deixava ir: eu não ia. Não queria. Não me deixava ficar sozinha, nem eu lhe permitia que me deixasse. Não podia. Eu sentia que era verdade. Tão verdade quanto nossas escovas de dentes juntas. Tão verdade quanto ele amassando minhas roupas. A verdade é que tinha parte dele que eu desconhecia. A parte não tão calma, não tão compreensiva; a parte não tão minha. Essa parte me ignorava, me fazia odiar, eu chorava. A queria matar, mas ela o dominava, e ele me enfraquecia. E se eu a matasse eu o mataria: assim nós três morreríamos. Seria um fim trágico, um fim como o da nobreza. E tudo acabaria. Mas como destruir tão rara e bela jóia? De acordo com meu coração, impossível. "Enterre-o!" - disse a rainha - "Decapite-o!". "Deixe-o ir..." sussurrava minha mente. Por meu amado eu desobedeceria a rainha. Disse à ele para fugir. E não suportei, que tolice a minha! Estagnei-me, morri sozinha.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Histórias
[...] e ele não voltou. Será que se esqueceu de mim? Se esqueceu, não devo significar mais do que essa caixa de cigarros jogada na mesa, e provavelmente ele já esteja indo comprar outra. Mas como ter certeza? Talvez esteja ocupado demais, talvez tenha se perdido em seus pensamentos... E no fim, quem poderá dizer que ele está mentindo, se ele, apenas ele conhece a verdade de sua mente? Quem dirá que no fim dos tempos deixamos de nos encaixar? Talvez seja apenas isso a história da minha vida. Uma fotografia, um leve perfume e uma porção de dúvidas.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Sol no caixão.
Não era nada mais do que uma noite de chuva e dois dias de sol. Quando você sussurra você chora, e sem as palavras você sorri. Ela agora estava morta e havia um maldito sol batendo no caixão. Eu tremia de frio ao tocar suas mãos gélidas e seu vestido de cetim branco, mesmo debaixo de meu quente terno preto. E eu sussurrava para ela uma canção de ninar, embora ela já estivesse embalada num sono profundo.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Dorme agora, é só o vento lá fora...
E então a encontraram ali, estirada no chão. Seu corpo estava frio, cheio de rasuras, sangrando. Era como ela se sentia à uma semana atrás. E agora ela dormia, calma, ao som do vento no meio da avenida. E o céu cor de chocolate agora se mesclava aos medos das pessoas. Mas ninguém ouvia seu grito, um grito horrorizado, quase mudo, ao ver seu corpo sozinho cada vez mais pálido, cor de osso. Ela permaneceu olhando pela janela do quinto andar até levarem seu corpo embora. Ninguém sabia o que havia acontecido, ao menos ninguém que se importasse. E em uma semana ela estava esquecida. Foi como se ela nunca houvesse existido. E os moradores de seu apartamento a ouvem bater na janela à noite, pedindo para entrar. Mas ela nem existe, é só o vento lá fora...
domingo, 30 de outubro de 2011
Coisas inesquecíveis
Ele era tudo o que eu queria ser, e tudo o que eu precisava. Amava meus defeitos como se fossem qualidades, embora eu achasse que tudo o que havia de bom em mim fosse ele. Seu sorriso brincava com seus olhos claros ao sol, enquanto ele fumava e me olhava como se eu fosse seu sol. E ele era o meu. E era tão lindo. Ele ria do que eu gostava como se eu fosse uma criança fazendo tudo errado. Era animado como quem paga uma rodada de chopp para os amigos, e mesmo quando estava ébrio continuava sorrindo. Não se importava com sua saúde e compensava se importando com a das outras pessoas. E o que mais lhe admirava nos humanos era a gratidão, embora não fosse um exemplo desta. Então ele se perdeu em seus próprios pensamentos: acredito que parte de suas boas memórias e um pedaço de seu coração. Ainda ando por aí procurando as melhores coisas que tínhamos e que ele perdeu, e às vezes recebo recados anônimos escritos por ele. Isso me faz acreditar que ele também quer que eu encontre essas coisas.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Sol da tarde
Eu o estava esperando já fazia tempo. Ele enfim apareceu, reluzente ao sol da tarde. Seus olhos brilharam e ele me cumprimentou com um leve beijo nos lábios. Eu não queria estar em qualquer outro lugar naquele segundo. Ficamos sentados à sombra da árvore: eu cantarolava Bon Jovi enquanto ele fumava um cigarro de canela. A fumaça vinha em minha direção mas eu não me importava; era um hálito de menta que se misturava à fumaça, e era gostoso. A tarde parecia nunca escurecer, para minha calma, pois eu poderia permanecer ali para sempre se o sol permanecesse comigo. Se ele permanecesse comigo. Mas, se você está feliz, algo acaba acontecendo; as coisas nunca permanecem estáveis: e o veludo negro começou a revestir o céu. Então, da mesma forma como ele veio até mim, ele se foi, caminhando por entre as árvores e os postes de luz, e ele desapareceu. E eu acenei para onde ele deveria estar, dessa vez sem esperar nada.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Arco-Íris
Já não me lembro com tanta clareza da cor dos seus olhos, de seu sorriso despreocupado. Já não fico tremendo ao pensar que você pode aparecer por aqui. Já não espero por uma ligação sua, grudada no telefone a tarde inteira. Sabe, muita coisa passou desde que você me deixou, e eu acho que aprendi muita coisa nesse tempo. Aprendi que, mesmo que você tenha mudado meu modo de pensar sobre as coisas, você pode não querer estar ao meu lado e, eu também posso não precisar mais estar ao seu. Aprendi que o tempo não muda em situação alguma, e que ser do seu jeito é lindo. Absorvi mais do que uma gota de sua essência: absorvi um período de chuva inteiro. Mas depois que a tempestade de você passou, percebi que mesmo sem você continuar comigo durante as noites você havia deixado um arco-íris pra mim pela janela. E o céu estava lindo outra vez, e o mundo brilhava à minha espera. E, devo dizer que ainda sinto sua falta, e, ainda que eu sinta, sei que vou sobreviver. À noite, quando me lembro de você, toda a falta que senti durante o dia, toda a solidão que você me deixou se transforma em lágrimas que escorrem sem parar, mas elas se vão afinal. E assim tem sido durante o período em que você não esteve comigo: todas as manhãs o sol clareia, e todas as noites uma escuridão me invade. E cada fração de segundo faz minha mente arder, meu coração se contorcer e meus sentidos se desviarem. Mas, mesmo tomada pela dor em cada milímetro do meu corpo, meu subconsciente gritando sua falta, mesmo que o tempo dure mais à noite, e eu sinta uma brisa gelada onde deveriam estar seus braços à minha volta, fico esperando o sol brilhar todas as manhãs. Pois é ele quem me traz um pouco das lembranças boas do que você me mostrou; ele me deixa ver, não com clareza, mas me deixa sentir você aqui. E quando sinto você não sinto mais nada. É como se o mundo parasse ao meu redor, é um tempo só meu, embora prefira me referir ao tempo como nosso mesmo que o você não seja tão real. É o tempo que tenho para passar ao seu lado, para sentir mais saudades quando voltar à vida. Para me martirizar imaginando você rindo com seus amigos, sentados à mesa, onde eu nem sequer passo por sua mente. Onde você nem ao menos me sente ou sente minha falta. Mas você vai ver o mesmo sol que eu, e, eu espero que você também se lembre de mim no mesmo momento. Espero que não tente afastar minhas lembranças, e gostaria de também lhe ter sido útil, que alguma coisa minha eu tenha deixado em você, que alguma coisa eu tenha feito certo para que sorria, mesmo que levemente, ao se lembrar de mim. E a única coisa que espero ainda nessa vida é que eu o encontre novamente, recebida por um sorriso de saudades, e possamos começar tudo denovo: as conversas, as saídas, os abraços, os risos, as bebidas, os beijos, os cigarretes, e enfim você e eu. E que dessa vez, você não se vá. Que você prefira passar por todas as coisas que passará ao meu lado, que me segure perto de você e não me deixe ir nunca mais. Mas, se eu não o encontrar por acaso, saiba que estou aqui, minha janela ainda está aberta caso você queira entrar à noite. Você pode ligar o rádio naquela música para que eu saiba que você chegou, e, de repente, quem sabe eu consiga voltar a dormir à noite. Que eu sinta um beijo seu novamente, e talvez eu me levante eufórica para lhe receber com meus abraços jogando meu peso contra você, confiando que você me segurará como antigamente. Porque eu confiaria em você mesmo depois de tanto tempo, eu confiaria me jogar de um precipício de olhos fechados se você dissesse que me seguraria. E se você resolvesse não me segurar, eu apenas sussurraria que sentiria sua falta. Não me importaria em cair e me desmanchar no chão se você não fosse mesmo me segurar. Mas sei que você me seguraria, apenas por sentir que você é o que me faz ainda estar de pé. Talvez, se você me telefonasse às vezes, eu conseguisse dormir à noite. Talvez eu não durma porque o fique esperando. Mas, mesmo sem você aqui, vou aproveitar o sol fraco em meu rosto, me esquentando, e vou aproveitar as chuvas varrendo a sujeira e preparando um arco-íris. Mesmo sem você vou aproveitar o que aproveitava ao seu lado. E mesmo sem você, vou amá-lo, sempre. Enquanto a tempestade cair e trouxer o arco-íris, enquanto o sol aparecer pelas manhãs, eu vou amar você.
domingo, 23 de outubro de 2011
Bolachinhas
Estávamos descendo a rua correndo, com as garrafas na mão, como dois fugitivos. "Estamos fugindo" ele retrucou, "de meus pais". Ficamos dois minutos ali, rindo deliciosamente, até ele se lembrar de seu objetivo principal: me fazer engolir uma daquelas bolachas secas feito papel. Mas eu não me renderia tão fácil, e ele sabia disso embora fingisse que não. "Quando você for minha namorada, você vai comê-las todinhas". "Vai sonhando" rebati. Mas ele já me havia pego em seus braços e sussurrava em meu ouvido: "já estou sonhando".
sábado, 22 de outubro de 2011
Caprichosa
Ela era um tanto nova para ele. Ele era um tanto calmo demais. Eles eram um pouco diferentes o bastante. O bastante para dar certo, o bastante para fazê-los brigar todas as vezes possíveis, o bastante para tudo. Eram o que se pode escolher o próprio destino. Ou talvez não o suficiente. Ambos queriam que desse certo. E quem não queria? Mas as pessoas dizem que querer nunca é o suficiente. E quem disse que foi? Ela era mimada, ele aceitava. Mas perdeu a paciência, quem não perderia? Ela só lhe respondia não, e queria todo o resto. Ele suportava suas exigências e fazia seus caprichos. Mas não durou muito tempo. Ela o amava mas nunca o disse isso. E então, ele foi embora. Estava cansado de esperar ela se tornar mais humana. E então, quando ele foi ela se tornou. Sentia falta demais para pensar em caprichos e exigências. Só queria ele de volta, mas ele já estava longe, longe...
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Louco por uma gata.
Ah! Como era doce. Doce e rápida como uma bala, e sempre atingia direto no alvo. E dessa vez não foi. Ela já havia me feito cometer loucuras por ela. Então, quando cheguei eu a vi ali, em posição de ataque. Ela correu rápida em minha direção, suas unhas rasgaram meu ombro e ela pousou atrás de mim. Segurando meu ombro rasgado, cravando neles suas unhas vermelhas e parando sua boca em meu ouvido. Vi que ela andara afiando suas unhas felinas em meu sofá. "Me desculpe, amor, não pude resistir". Seus dentes arranharam meu pescoço, ela ronronou, puxando minha boca para a dela. Estava feito, ela me tomara por mais uma noite. Mas dessa vez não fui a bolinha de borracha da gata. Ela não correra para a noite após a diversão, saltando pela janela aberta e deixando apenas sua essência pairando no ar. Ela ficara, e dormira nua em minha cama, enrolada em meus lençóis e com a juba vermelha espalhada pelos travesseiros.
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